quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Acorda, amor - Chico Buarque


Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão

Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão

Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo
E pode me esquecer

Acorda amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa não reclame
Clame, chame lá, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão)

 ♪ A música é, na verdade, de Julinho da Adelaide (pseudônimo do Chico) que compôs três canções: "Acorda, amor", "Milagre Brasileiro" e Jorge Maravilha". Ameaçado pelo Regime Militar na época da ditadura e exilado na Itália em 1969, Chico Buarque é um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira, além de dramaturgo e escritor.



Após “Cálice” e “Apesar de Você” terem sido censuradas, Chico Buarque achou que seria mais difícil conseguir aprovar alguma música sua pelos agentes da censura. Escreveu então “Acorda Amor” com o pseudônimo de Julinho de Adelaide para driblar os militares. Como ele esperava, a música passou.

"Acorda Amor" é um retrato fiel aos fatos ocorridos no período entre 1968 (logo após a decretação do AI-05) e 1976 quando, teoricamente, a tortura já não era mais praticada pelos militares. Diversas pessoas sumiram durante este período após terem sido arrancadas de suas casas a qualquer hora do dia ou da noite, e levadas para DOPS e DOI-CODI´s espalhados pelo Brasil.

A falta de confiança era tão grande que as pessoas tinham mais medo dos policiais (que seqüestravam, torturavam, matavam e, muitas vezes sumiam com corpos) do que de ladrões. A ironia do compositor é tão grande que, quando os agentes da repressão chegam, chamam-se os ladrões para que sejam socorridos.
 

*Ditadura ou regime militar é uma forma de governo onde o poder político é efetivamente controlado por militares.  A ditadura militar no Brasil teve início em abril de 1964, após um golpe articulado pelas Forças Armadas, em 31 de março do mesmo ano, contra o governo do presidente João Goulart.

Chico Buarque de Hollanda

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A trilha sonora da minha vida ♪

Desde muito cedo gosto de música. Não como a maioria das pessoas gosta: ouvir de vez em quando, numa festa, limpando a casa, etc. Gosto de música o tempo todo (desde a hora em que acordo até momentos antes de dormir), de dentro pra fora (como se elas me escutassem e não o contrário). 

Disse Mário Quintana: "Um bom poema é aquele que dá a impressão de que está lendo a gente e não a gente a ele". Eu digo que isso vale para a música, que (também) é poesia musicada. Frases que parecem ter saído de mim mesma, coisas que já vivi e só não sabia como musicar, ritmos de pensamentos traduzidos em cifras, tablaturas, claves de sol.

Na minha memória ritimada, um baú de recordações: fatos e pessoas registradas, cada uma com uma melodia diferente. 

Vanessa da Mata me faz lembrar do Mayron, mas também de uma época muito difícil. Ana Carolina musicou grande parte de minha vida - desde meus... 18, 19 anos. Isabella Taviani - principalmente luxúria - praticamente me transporta à academia onde fazia aula de step e jumping com a Talita e me divertia horrores! Não curto pagode, mas alguns me deixam feliz porque são meus e da Nathália, enquanto a gente curtia no Veneza nas noites de domingo ouvindo o Saia Justa (banda formada só por mulheres que admiro muito). Pitty me liberta, Nirvana só escuto quando tô deprê, Marisa Monte é inevitável quando me apaixono, Charlie Brown Jr me faz sentir um menino revoltado.

Com Jazz me imagino num cabaré antigo - de vestidão vermelho, sentada num piano branco e fumando charuto. Rap, Hip Hop e Blues afloram meu verdadeiro eu  que (eu sei) é negro. Música regional aumenta meu orgulho de ser paraense. Pop-rock internacional em voz de mulher me faz sentir mais feminina, poderosa, louca desvairada. Pop-rock internacional em voz de homem me deixa pensativa, sonhadora. Pop romântico de vez em quando. Raggae ainda não me cativou. Heavy metal jamais o fará.

A música me inspira, me alimenta, me conduz. Por isso resolvi criar este blog, para poder transcrever e registrar meus momentos musicais.


"Toda alma é uma música que se toca" - Rubem Alves