segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Arranjo ♫




Me escala, me toca, me harmoniza
Me canta, me escreve, me improvisa
Sou frase sua, me continua
Faz o contra-ponto
Cifra o caminho onde te encontro

Aprendo seu ritmo moderado com ímpeto
Me afino em acordes alterados
Pela manhã peço uma pausa longa
De longo efeito
E te beijo em silêncio

Me orquestra, me sola
"Solamente una vez"
Nesta canção que você fez


(Isabella Taviani e Zélia Duncan)



Essa música faz parte do álbum "Meu coração não quer viver batendo devagar" da Isabella Taviani e tem a participação especial da Zélia Duncan. Vale a pena conferir as outars faixas e os outros trabalhos da Isabella, que deslanchou sua carreira após emplacar com músicas suas em quatro novelas globais. :)


Antes de se tornar cantora, Isabella jogou volei, trabalhou em repartição pública DETRAN e deu aula para crianças carentes, filha de uma pianista e neta de um cantor de ópera, procurou o curso de soprano apenas para aprimorar a voz pois já sabia que o que queria era MPB. Pensando em aprimorar sua performance no palco ela fez curso na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Isabella formou-se em canto lírico e desde então, vem desenvolvendo um estilo que cativa a todos que a ouvem pela força e melodia envolvente de suas composições. Influenciada por cantoras como Simone, Dalva de Oliveira, Elis Regina, Maria Bethania e Maria e a soprano Maria Callas.

Discografia

  • 2003: Isabella Taviani
  • 2005: Isabella Taviani ao Vivo (CD/DVD)
  • 2007: Diga Sim
  • 2009: Meu Coração Não Quer Viver Batendo Devagar

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Catavento e Girassol



Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol
Você só pensa no espaço, eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea

Quando eu respeito os sinais vejo você de patins vindo na contramão
Mas quando ataco de macho, você se faz de capacho e não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega, nós não ouvimos conselho
Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho

Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen
Quando assovio uma seresta você dança havaiana

Eu vou de tênis e jeans, encontro você demais, scarpin, soiré
Quando o pau quebra na esquina, cê ataca de fina e me ofende em inglês
É fuck you, bate bronha e ninguém mete o bedelho
Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho

A paz é feita num motel de alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval aumentam os desenganos
Você vai pra Parati e eu pro Cacique de Ramos

Meu catavento tem dentro o vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade, você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço, você é tão espontânea

Sei que um depende do outro só pra ser diferente, pra se completar
Sei que um se afasta do outro, no sufoco, somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser e eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão no sumidouro do espelho
(Leila Pinheiro)


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mulheres de Atenas (Chico Buarque e Augusto Boal)


Mirem-se no exemplo


Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

Quando amadas se perfumam

Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas

Mirem-se no exemplo

Daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos
Poder e força de Atenas

Quando eles embarcam soldados

Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obscenas

Mirem-se no exemplo

Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho

Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas

Mirem-se no exemplo

Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas

Elas não têm gosto ou vontade

Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não tem sonhos, só tem presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas

Mirem-se no exemplo

Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas

E as gestantes abandonadas, não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
As suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo

Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
 

Aos leitores menos avisados, que considerarem a canção uma apologia à submissão e à subserviência feminina ao sexo masculino, Chico Buarque e Augusto Boal valem-se da alusão aos famosos poemas épicos Ilíada e Odisséia (ambos atribuídos a Homero) para chamar a atenção das mulheres que ainda “vivem” e “secam” por seus maridos. São ironicamente relatados aspectos da sociedade ateniense do período clássico e a alguns episódios,e personagens, da mitologia grega.

Penélope, mulher de Ulisses, herói do poema Odisséia, viu seu marido ficar longe de casa por vinte anos, período em que ela se porta com dignidade e absoluta fidelidade; mas, por um lado, sua formosura, e, por outro, os bens familiares atraem a cobiça de pretendentes, que julgavam seu marido morto. Ela lhes dizia que só escolheria o futuro marido após tecer uma mortalha, que, a bem da verdade, não fazia questão de terminar: passava o dia tecendo e, à noite às escondidas, desmanchava o trabalho realizado. E enquanto seu marido se mantinha ausente, embora por tanto tempo sem notícia, ela se vestia de longo, tecia longos bordados, ajoelhava-se, pedia e implorava para a deusa Atena que providenciasse o retorno de seu amado.

Helena, filha de Zeus, era considerada a mulher mais bela do mundo. Sua história é uma das mais conhecidas na mitologia grega. Esposa de Menelau, rei de Esparta, foi seduzida e raptada por Páris, filho do rei de Tróia. Esse rapto deu origem à guerra de Tróia, que os gregos promoveram para resgatar Helena; fato narrado em Ilíada de Homero. Embora Ulisses não figurasse no primeiro plano da Ilíada, nela é freqüentemente mencionado, como um viajante conduzido à terras distantes e herói da batalha de tróia. Por essa escolha Homero, o poeta, relaciona as duas epopéias. A esposa de Ulisses, a prudente Penélope, opõe-se à esposa infiel – senão verdadeiramente culpada – Helena, que na Ilíada é causa inicial da guerra. Por essas e outras razões a Odisséia está intimamente ligada à Ilíada.

Algumas leitoras feministas, vacilantes e obtusas, criticaram os autores da música por julgarem  o conteúdo “machista”. Não foram capazes de perceber o sarcasmo presente no texto. “Mirem-se...” é, na verdade, sugestão para que se faça o contrário.

"Mulheres de Atenas" é um hino contra a submissão das mulheres que se sujeitam às regras ditadas pelas sociedades patriarcais, conservadoras, machistas. O próprio Chico, ao ser indagado - em entrevista - sobre o pensamento das feministas da época, disse: “Elas não entenderam muito bem. Eu disse: mirem-se no exemplo daquelas mulheres que vocês vão ver o que vai dar. A coisa é exatamente ao contrário”.


Texto baseado na análise do professor José Atanásio Rocha, parte integrante do site Mundo Cultural.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Acorda, amor - Chico Buarque


Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão

Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão

Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo
E pode me esquecer

Acorda amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa não reclame
Clame, chame lá, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão)

 ♪ A música é, na verdade, de Julinho da Adelaide (pseudônimo do Chico) que compôs três canções: "Acorda, amor", "Milagre Brasileiro" e Jorge Maravilha". Ameaçado pelo Regime Militar na época da ditadura e exilado na Itália em 1969, Chico Buarque é um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira, além de dramaturgo e escritor.



Após “Cálice” e “Apesar de Você” terem sido censuradas, Chico Buarque achou que seria mais difícil conseguir aprovar alguma música sua pelos agentes da censura. Escreveu então “Acorda Amor” com o pseudônimo de Julinho de Adelaide para driblar os militares. Como ele esperava, a música passou.

"Acorda Amor" é um retrato fiel aos fatos ocorridos no período entre 1968 (logo após a decretação do AI-05) e 1976 quando, teoricamente, a tortura já não era mais praticada pelos militares. Diversas pessoas sumiram durante este período após terem sido arrancadas de suas casas a qualquer hora do dia ou da noite, e levadas para DOPS e DOI-CODI´s espalhados pelo Brasil.

A falta de confiança era tão grande que as pessoas tinham mais medo dos policiais (que seqüestravam, torturavam, matavam e, muitas vezes sumiam com corpos) do que de ladrões. A ironia do compositor é tão grande que, quando os agentes da repressão chegam, chamam-se os ladrões para que sejam socorridos.
 

*Ditadura ou regime militar é uma forma de governo onde o poder político é efetivamente controlado por militares.  A ditadura militar no Brasil teve início em abril de 1964, após um golpe articulado pelas Forças Armadas, em 31 de março do mesmo ano, contra o governo do presidente João Goulart.

Chico Buarque de Hollanda

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A trilha sonora da minha vida ♪

Desde muito cedo gosto de música. Não como a maioria das pessoas gosta: ouvir de vez em quando, numa festa, limpando a casa, etc. Gosto de música o tempo todo (desde a hora em que acordo até momentos antes de dormir), de dentro pra fora (como se elas me escutassem e não o contrário). 

Disse Mário Quintana: "Um bom poema é aquele que dá a impressão de que está lendo a gente e não a gente a ele". Eu digo que isso vale para a música, que (também) é poesia musicada. Frases que parecem ter saído de mim mesma, coisas que já vivi e só não sabia como musicar, ritmos de pensamentos traduzidos em cifras, tablaturas, claves de sol.

Na minha memória ritimada, um baú de recordações: fatos e pessoas registradas, cada uma com uma melodia diferente. 

Vanessa da Mata me faz lembrar do Mayron, mas também de uma época muito difícil. Ana Carolina musicou grande parte de minha vida - desde meus... 18, 19 anos. Isabella Taviani - principalmente luxúria - praticamente me transporta à academia onde fazia aula de step e jumping com a Talita e me divertia horrores! Não curto pagode, mas alguns me deixam feliz porque são meus e da Nathália, enquanto a gente curtia no Veneza nas noites de domingo ouvindo o Saia Justa (banda formada só por mulheres que admiro muito). Pitty me liberta, Nirvana só escuto quando tô deprê, Marisa Monte é inevitável quando me apaixono, Charlie Brown Jr me faz sentir um menino revoltado.

Com Jazz me imagino num cabaré antigo - de vestidão vermelho, sentada num piano branco e fumando charuto. Rap, Hip Hop e Blues afloram meu verdadeiro eu  que (eu sei) é negro. Música regional aumenta meu orgulho de ser paraense. Pop-rock internacional em voz de mulher me faz sentir mais feminina, poderosa, louca desvairada. Pop-rock internacional em voz de homem me deixa pensativa, sonhadora. Pop romântico de vez em quando. Raggae ainda não me cativou. Heavy metal jamais o fará.

A música me inspira, me alimenta, me conduz. Por isso resolvi criar este blog, para poder transcrever e registrar meus momentos musicais.


"Toda alma é uma música que se toca" - Rubem Alves